domingo, 7 de dezembro de 2008

30 de outubro - decisão: luta pelo morro (parte final)

O exército de Dona Marta tentou, rebaixou, mas não conseguiu. Suas armas envelhecidas, enferrujadas não conseguiram se sobrepor ao novo fogo que possuia a turma do Papagaio.

De lavada ela perdeu, retirou o seu time e deixou o recado no ar: "Eu voltarei"...sabe-se lá quando! Agora o morro, ou melhor, "A" Cidade, pertence ao "democrático" Papagaio...e tudo indica que contará também com apoio do Zé Tucano; que muito em breve lutará para tirar o Zé da Barba do comando da Favela Nacional Amazônica.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A Briga no Morro - parte II




A disputa da cidade, da legenda e do comando


O Tucanão tentou entrar pelos fundos, pois a moral dele estava em baixa no morro. Foi surpreendido pelos armamentos pesados do pessoal do Papagaio, que mandou bala e deixou a boca dele cheia de ódio e sangue.

A providência tomada pelos facínoras de Marta foi logo armar emboscadas no escuro e disparar granada por todos os lados do morro, na tentativa de apagar alguns capangas do Papagaio. Não conseguiram. Detonaram casa de inocentes, que revoltados, levantaram suas bandeiras e pegaram seus facões a favor do novo dono do pedaço.

Mesmo ferido, o ser de bico grande deu a mão para o “democrático” comandante do velho morro a fim de acabar com toda a tropa da perigosa mulher loura.

Na calada da noite o grupo unido já conseguiu desferiu algumas facadas e um tiro de raspão na muié. Mas ela forte, sangue de Joana d’Arc, não desiste por nada.

A população, revoltada, marcou novo encontro no morro. Com ou sem bilhete único para entrar tranqüilamente no morro, outrora chamado de “Belezura”, o povo vai para a luta. Tudo será decido no domingo.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

A briga no morro- Parte I

A disputa da cidade, da legenda e do comando

O sangue escorria pela boca do papagaio. Quem bateu foi o Tucano. Chefe do bando dos tuiuiús do Morro da dona Marta. A própria dona Marta já não morava mais lá. Nem sabia quem batia e quem morria.

O tucano também já estava meio sem moral no morro, mas mesmo assim ainda insistia em fazer o sangue jorrar nas noites que chegavam.

O papagaio vinha ganhando cada vez mais espaço dentro da comunidade. Ainda era pequeno, chefiava o local há menos de dois anos. O bicudo colorido já tinha muito experiência, já havia comandado por anos diversas comunidades e agora estava querendo o morro da dona Marta. Poucos sabiam onde a própria Martinha andava, porém sem mais nem menos, ela apareceu com o mesmo bando de antes, quando originou o nome do local, para tentar brigar de novo pelo ponto que levava sua graça.

Ela já teve moral com os mais necessitados e ainda tem o respeito de alguns do morro. O problema é que o sangue está escorrendo por todas as noites dentro de lá e ela está meio confusa com a tática que terá de usar. A munição vai ter que ser pesada. O tucanão tá mandando bala direto, já acertou até em quem não devia; a todo custo ele ta querendo invadir e tocar o terror. O cara sempre respeitou a população, mas agora andou cuspindo demais em todo mundo, fora que estava um pouco afastado da boca e da galera e daí perde-se a credibilidade.

O papagaio é que quietinho tá ganhando cada vez mais comparsa, tá fazendo alianças e agindo no escuro. A muié ta botando o exército para ferver na entrada do morro e ainda por cima está com o apoio do Zé da barba, que chefia a favela nacional Amazônia. Cara da pesada. A briga vai ser boa. O sangue promete rolar solto pelo controle do local.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

A velocidade da cidade


Dez minutos, um dia, uma capital, dois óculos


Um homem coçando o bigode. Ajustando o cabelo. Roupa meio surrada. Simples. Moço sentando num banquinho. Com um monte de moeda. Fone no ouvido. Nem aí para ninguém. Cara de tédio. Crianças atentas. Outras com sono. Um pedreiro. Suado. Malcheiroso pelo trabalho. Menina patricinha de aparência. De nome Letícia, na verdade (a amiga que dá risada a chamou). Garoto tentando parecer playboy. Namorados pensando na vida, no amor, no futuro. Na cama. No sono. No sexo. Senhor e senhora com aparência jovial. 60 anos. Indo para um forró. Vontade de bebedeira, na certa. Jovens trajando preto. Olhos, cara, boca. Piercings. Coturnos. Inofensíveis. Vovô cansado da vida. Sujeito elétrico. Quieto. Mas, suspeito de um crime perfeito. Maconheiro curtindo a viagem ao lado. Homem de terno indo trabalhar ou para um evento festivo. Outro voltando do trabalho. Mulheres de longo. Feias. Horríveis. Apenas uma aparenta ir à uma boa festança. Outras aparentam ir ao samba, mesmo de longo. Outros namorados. Esses mais animados para chegar logo ao encontro dos amigos. Ou do evento. Casal estranho mais a frente. Meio desiludido. Pandeiro e tamborim. Escola de samba logo ali. Buteco d ebamba do lado de lá. Tênis novo. Jaqueta de marca. Aparência. Diz para os amigos que tem um Civic. Cabelos lisos. Olhos claros. Amiga de infância ao lado. Passam maquiagem no rosto. Produção para se sobressair entre amigas. Talvez para o garoto. Cerveja na mão. De um amigo. De outro. De outra, que está doida para acender um cigarro. Meio nóia. Ser perturbado. Nariz coçando pela hora que chega. Família voltando junta e feliz. Caras de gente boa atrás. Daqueles que se riem muito em um bar. Jogador de futebol. Cabelos lavados à esquerda. Aparenta gostar de teatro os que vêm com jeans e blusa nova. Sem rumo e sem roupa bonita. Em contrapartida, diversas modelos e modelos entram em cena. Sei lá para fazer o que. Cinema à vista para os homens namorados. E noite adentro para as supostas namoradas. Um ronca e outro olha atentamente para frente. Calculando como será daqui em instantes quando chegar aonde pretende. Sacolas de supermercado. Mais uma compra da chata rotina. Cara de sexta-feira morna, sem nada demais de surpresa na vida. Ansiosa. Olhando o relógio. Bons momentos por chegar. Nove horas de sexta-feira. Ônibus coletivo em São Paulo. Cheio. Ou a própria cidade de São Paulo. Multifaces. Em uma vida a motor.




domingo, 22 de junho de 2008

Gado da noite, arremate da sorte...ou questão de escolha


A puta pára no meio rua e olha atentamente o movimento de veículos. Espera o próximo possível cliente estacionar ao lado de suas pernas torneadas. “Quanto é piranha?” – pergunta o homem de bigode sujo do carro amarelo que estaciona. “Quanto é o que?” – diz mulher de vestido vermelho curto. “O programa, né, porra?” “Para você não tem programa?” – retruca a confiante mulher. “Ué, porque não? O que você está fazendo aqui, então?” – responde o indignado bigodudo com o celular na mão. “Estou esperando um cliente.” “E eu sou o que, biscate?” “Um bosta.” “Olha o respeito, sua vaca.” – diz em tom de brincadeira o homem de meia idade.
“Respeito!! Por quem!? Não te conheço, não quero vender meu ‘produto’ para você porque não fui com a tua cara, babaca.”
“Ta se achando, gostosa...que que você ta pensando da vida, hein?” To pensando em dinheiro, mas não no seu. Porque apesar de estar na rua não sou lixo, e escolho bem para quem quero mostrar minha bunda.”
“Então, você se ferrou, otária, porque ia te pagar 300,00 só por você ser gostosa desse jeito...e porque também não preciso nem um pouco da porra desse dinheiro que você ta querendo. Aliás, olha aqui as três notas azuis que ia te dar – o cara ergue a mão com a grana e mostra para ela. Perdeu. Passe frio aí e arruma o teu cliente, então.” – diz o homem, passando a mão em seu bigode e começado a acelerar o carro. “Aliás, você não quis saber de mim só porque te chamei de piranha, né?! Acho que você queria que eu dissesse Virgem Maria?! (risos) Se manca, porque amiguinho é o que você não vai fazer cobrando 100 conto do cara, né!? Até eu queria ficar amigo de um monte de gente que me pagasse ‘cenzão’ hahaha” – resmunga e sai em derrapada com o carro, o tio de meia idade.
“Filho da puta” – pensa a mulher de diversões noturnas. Um bonito carro prata estaciona perto dos peitos G e pergunta. “Olá, princesa, tudo bem? Ta livre para dar uma volta? Gostei do seu vestido. To louco para descobrir o que tem por baixo dele!” – fala o respeitoso rapaz. Ela olha para o cabelo com gel do garoto, para o banco de couro do carro e suspira. “To livre sim gatinho, para você mostro tudo e a voltinha sai barata (‘cenzinho’)... e gostosa.”

***

Um dia depois descobrem dentro do porta-malas de um estacionamento um carro velho com uma mulher nua, vestido vermelho curto ao lado do corpo, com o olho virado e a boca branca. Sem sinal de sangue. Possivelmente estrangulamento ou intoxicação por drogas. O policial olha e comenta com o compaheiro de trabalho. “Uma gata, hein! Quanta maldade, dá até pena da vida que essas meninas levam” – possivelmente já identificando que se tratava de uma garota de programa. Tá vendo, dá nisso, elas acabam ficando sem escolha e nem sabem com quem andam por aí. Falta de sorte!” O outro policial olha espantado para o corpo da menina e retruca com o amigo. “Falta de sorte nada! Ontem, andei por andei por aí para procurar uma ‘prima’ e uma não quis saber de mim, cara! Acredita? Elas escolhem sim com quem andam – o primeiro policial começa a rir do parceiro. Acredita se eu te falar que a menina era bem parecida com essa piranha gostosa aí...e olha que eu queria dar trezentos conto para ela.”

segunda-feira, 14 de abril de 2008

O meu boi, a sua arroba e o nosso pasto



Um dia eu tive um boizinho. Dei capim, dei amizade, dei dinheiro para sua carcaça melhorar, para o seu corpo robustar. Era apenas um boizinho. Sozinho entre tantos outros bois ao lado. Que por sua vez também eram sozinhos. Ganhavam vacinas para não ficar doentes. Ganhavam estudos genéticos para ficarem mais “inteligentes”. Dia-a-dia ganhavam casa nova. Mais investimento e cuidados com suas moradas. Um boi amigo. Quietinho. Quando a gente chegava perto deles pareciam que nos entendiam. Mesmo que a Língua Portuguesa fosse diferente do “ruminantês”. Eles diziam os seus diversos “múús” e nos entendíamos de uma certa forma.


Mesmo assim, eles tinham sempre um olhar desconfiado. Tinham também um futuro pela frente...crescer, ficar mais forte, constituir filhos. Mas para qual finalidade?
Mas e sua finalidade, qual é? E a minha? Crescer e morrer? Igual ao boizinho?!!??! Sim. A resposta é sim. Nascer, crescer, viver e morrer. Igual ao bonzinho boizinho.


Vivemos no mesmo pasto, que às vezes fica mais bonitinho. Estudamos para melhorar a carcaça. Nos vacinamos para espantar o nosso abate antecipado. Vivemos sozinhos até mesmo na rua com um monte de gente ao lado.


Tadinho dos boizinho! Suas vidas passam a ser preços, arrobas, vendidos em um mercado mundial. Tadinho dos boizinho, eles são criados para morrer. Para depois a gente comer. Quanta maldade!!

E você...não tem o seu preço? Sua carcaça não tem um valor no mercado mundial? Uma hora seremos abatidos, igual ao bonzinho boizinho amigo. Quanto custa a nossa arroba? Ou seria Kilo?


Nossa!!! Quanta maldade com a gente, né!! Ou seria com o bondoso boizinho?!



sábado, 8 de março de 2008

Como descobri o Palmeiras


O dia que tive a certeza de ser Palestra!

Esses dias um amigo do trabalho me contou de um livro bacana que ele tinha. Era escrito pelo Roberto Torero, grande jornalista e um mestre das palavras esportivas. Não que o leia sempre, mas vez outra dou uma passada pela sua coluna na Folha de S. Paulo. O livro era formado por uma história-fantasia de como seres celestes criaram um time chamado Santos Futebol Clube. Muito interessante a criatividade deste escritor por sinal. E também tinha várias crônicas, e em uma delas o cara contava como virou santista. Sensacional, se puder um dia leiam. Depois de ler este trecho fiquei me perguntando: quando virei palmeirense?


Sabe-se lá quando, disse eu, para mim mesmo. Mas me esforcei. Quando pequeno meu pai um grande fanático pelo Palmeiras me dizia que o time era isso, aquilo outro, que era bom e coisa e tal. Em uma casa geminada com a minha morava meu avô. O corintiano mais doente que eu já conheci. Era capaz de se trancar nos fundo do quintal da casa, em sua cadeira de balanço, fumando o seu tradicional cachimbo quando o timão perdia. Uma coisa de doido, um filho porco, e pai gavião. E um vivia zombando no outro. Eu confesso que ficava meio perdido. Meu outro avô – pai de minha mãe - tinha derrame. Andava vagarosamente, balbuciava algumas palavras, mas todos se comunicavam com ele perfeitamente. E todos também sabiam que ele era fanático pelo São Paulo. Era uma perdição. Uma mistureba. Meu avô tricolor esmurrava o sofá quando seu time marcava gol e tentava esboçar um grito que mais parecia um Gãoooo. Tadinho. Era a forma dele torcer. Mas via que sua face ficava vermelha de tanta emoção pelo time.


Mas a proximidade maior era com meu pai. Que me comprava futebol de botão do Palmeiras, meião, camisa e tudo o mais. Vestia e dizia que torcia. E ele dizia para o avô “curintia”. – Aí ó, o muleque é palmeirense. Meu avô vinha com a camisa do Corinthians outro dia, e eu, para não chatear meu querido pai, falava, com meus oito anos: “não quero, eu torço para o time do meu pai”. Que coisa, né. Nem sabia o que era futebol direito. Bom, em 92 só dava tricolor na cabeça. E na escola os meninos eram todos menudos. São-paulinos do pá-oko, que ficavam falando “é campeão do mundo”. “o seu time é uma bosta, não ganha nada”. Tinham razão o Palestra não levantava uma taça há 17 anos. E o Sampa era campeão mundial. Venceu o famigerado Barcelona na final. Para piorar minha cabeça, meu suposto time –que era só para alegrar meu pai – perdeu a final do mesmo ano para o time tricolor. No mesmo dia da triste final, meu maior exemplo de “corintianice”, que tocava o Hino do Time de Parque São Jorge no carro dele, bem alto, em frente ao portão da minha casa, todas as santas manhãs que o alvi-negro ganhava, faleceu subitamente. Fiquei tão triste, ainda corri para abraçar ele e perguntei ao médico, inocentemente: “doutor, não tem como fazer o coração dele voltar a bater de novo?” Passei a mão em seus olhos (que ainda estavam abertos) e fechei para sempre, na terra, a visão daquele grande gavião.No mesmo dia, me veio uma revolta com o futebol, ou melhor, com a porcaria do Palmeiras, que além de não ganhar nada, perdia para o time dos meninos que ficam zombando na escolinha. Falei, em honra ao meu avô, vou torcer para o Corinthians.


O outro véio são-paulino, firme e forte em seu derrame me dizia para comemorar com ele as vitórias do tricolor, já que o Corinthians também não ganhava nada. Disse para mim, mais uma vez, ta aí...acho que esse sim é o meu time. Por dentro comecei a me sentir são-paulino. Estava realmente fora de mim, aos dez anos de idade. Antes disso, alguns meses, para piorar, lembrei que meu pai me levou a um jogo do Palmeiras em Riberião Preto, contra o Botafogo. E adivinhem? O Palestra perdeu. Que lástima. Sei lá. Não quero mais saber deste futebol. Mas, convenhamos, falar no colégio que não torce para nunhum time de futebol é o mesmo que dizer que gostava de meninos e que brincava de boneca “Barbie”. Continuei afirmar, no maior ato de minha teimosia, que era palmeirense, mas gostava do SP, confesso. Que vergonha. “Ou é uma coisa, ou é outra...porra Marcelo.” Eu ouvia. É melhor continuar a ser teimoso e acreditar que meu pai está certo. É muito fácil ser são-paulino hoje em dia, não precisa assistir jogo, nem saber a escalação, nem acompanhar o torneio. Basta falar Zetti, Raí e Telê. Pronto! Por isso, que muitas meninas daquela época eram são-paulinas. Jogadores bonitos, time com atletas jovens, que mais estavam para modelo do que para carcereiros do “porradeiro” futebol.


Ah, convenhamos. Assim não tem graça. Vou sofrer pelo futebol, viver o jogo, estudar a tabela, o torneio, o time, aprender o hino. Vou ser é Palmeiras. Os menudos que se fodam. E este Corinthians não me parece muito legal. O cara de verdade que torcia para este time, já tinha ido para mim. Plantei a sementinha Palmeiras, para ver se crescia. Chegamos a mais uma final. O Paulista de 93, com o então técnico Vanderlei Luxemburgo. Tinha Edmundo, Edílson, Evair, Sérgio no gol, César Sampaio, Mazinho, Zinho. Uma seleção.


A semente começou a crescer. Final contra o Corinthians. O maior rival, apesar do máster campeão SP figurar entre os banachões do mundo. De que adianta não tem vibração. Um time sem expressão. Sem garra. Chato de ver. De assistir. Primeiro jogo da final, meu coração palpitava forte, um baque a mais eu não agüentaria e me revoltaria de vez com o futebol que tanto insistia em provocar minha confusão. Tava gostando desse verde, acompanhei pela primeira vez na minha vida um campeonato inteiro, ouvia os jogos nos radinho como os “gente grande” fazem, comprei a tabela, somava os pontos, os artilheiros. Via os esquemas táticos sendo explicados nas revistas e nos jornais. Eu vivi aquele Campeonato Paulista de 93.


Me dei essa chance de provar se realmente valia a pena. De repente...aquele jogo rolando, o meu time atacava, o Ronaldo – goleiro adversário – catava. Chutávamos e nada. O time deles começou a crescer. Dava medo. Calafrios. Despenquei. Caiu meu mundo. Um cruzamento na área...de repente aparece, em uma espécie de voadora com escorregão, Viola, bate o pé na bola e ela morre no fundo do gol. Para piorar, o cara se ajoelha e imita um porco. Nosso símbolo. Não podia acreditar em tanta humilhação. Fiquei mudo. Quieto. Sério. Deu um aperto, com vontade de chorar na garganta. Os fogos pretos comiam o céu da minha cidade. Os gritos invadiam a rua. E eu...calado. Meu pais, ao contrário: “Isso não é nada, eles vão levar no segundo jogo. Vai ser mais gostoso”. Custava a acreditar nele. Queria que tivesse razão, mas não acreditava.


Aquela imitação de porco rendeu. Saiu em todo os programas da tv. Em todos os jornais. E despertou a fúria verde. A emoção e união que eu nunca tinha visto. Meus colegas de escola que às vezes escondiam ser palmeirense, por vergonha, falta de títulos, apareceram vorazes após esta derrota, defendendo com unhas e dentes o Palestra. Entrei na dança. Vamos humilhar os Corinthians. Nunca vi tanta discussão nos corredores do colégio. Passamos a ir com vestimentas. Todos se vestiam de Palmeiras ou Corinthians. A ponto de sair brigas no intervalo. E a diretoria proibir a entrada de camisas de clubes. Estava insandecido o ambiente da final. O Viola provocou o que há de mais profundo no torcedor, a gana de vencer. A força da massa que empurra a equipe. O cara não podia imaginar que naquele momento despertou para o mundo o sentimento de “vamos derrotar o Corinthians, sempre”.


Esse passou a ser o meu lema. Torcer, para sempre, contra o Corinthians. Mas porque?? Porque descobri, que sou Palmeiras. Nossa. Que alegria na tristeza. Até os palmeirenses mais mudos, paraplégicos, sacis, passaram a cantar, gritar, pular, andar em bando nas ruas de todo o lugar. Só se via Palmeiras e Corinthians em vestimentas ornamentando os shoppings, bares, restaurantes, ruas. Tudo por causa do Viola. Eram 17 anos na fila. Eu só tinha 11, mas estava insandecido para gritar. Chega o dia da finalíssima. Precisávamos ganhar para levar a prorrogação. A cidade, o Estado de São Paulo ficou mudo, vazio na hora do jogo. Parecia que o mundo estava voltado para aquele estádio. Que vibrava, tremia em verde e preto. Diante da TV vi meu sentimento se confirmar. Um humilhante e acachapante 3 a 0 no Viola e seus compaheiros para acabar com o fôlego de qualquer crente corintiano. Nunca vi tantos fogos no céu. Nem em reveillon. Nunca pude acreditar que existiam tantos palmeireinses na vida. Buzinas rondavam o meu ouvido, vinda de todos os cantos. E mais um golzinho na prorrogação. Acabou 4 a 0, numa final, diante do Corinthians.


Saí imitando porco, coloquei uma Viola num saco e chutei para bem longe. Gritava, gritava, gritava sem parar. Meu pai acho que nunca pulou tanto na vida. Parecia que tinha ganhado na Mega-Sena, me dava uns abraços que paraceia me esbofetar e dizia...”è campeão filhão, é campeão”...de uma forma que eu nunca vi. A garganta do meu velho estava seca há longos 17 anos. E sair da fila assim, detonando o maior rival, no maior clássico do futebol, após uma humilhação no primeiro jogo...não dava para agüentar. Liguei para minha casa, e disse para minha mãe – que não estava conosco assistindo o jogo – “Mãe, sou campeão...fomos campeões. É o Palmeiras mãe”. Tudo por causa do Viola. Obrigado Viola! Daí começou a minha história com o Palestra, que seguirá para sempre...


quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Hoje ou amanhã?

Não seremos os mesmos...Nem mesmo um pouco do fomos...O que somos...É a soma do que passamos...Não seremos os mesmos...Após a queda,Após a chuva,Após a leva.Após os dias claros pós-treva.Não semos os mesmos...Após as vitórias..Após as conquistasApós as novas premissas...A selva se voltou, quando a terra só rodou...Apenas mais um dia se passou...Na historia de tantos outros que se foram...E outros q nem sabemos como chegarão...Não seremos os mesmos...Quando houver explosão...De felicidade...De alegria,De tristeza,Atômica,De avareza,De crueldade,Da verdade,Da mentira,Que sempre isistimos em contarRepdroduzir, para algum perigo espantarOu algum fato nos vangloriar...Não seremos mais os mesmos...Quando a família nova chegar,O amor antigo cessarO novo amor voltarOu um novo surgir para contar...Mais históriasMais brigas,Mais apredizados,Mais sonhosMais um pouco de emoçãoNão seremos mais os mesmoQuando a emoçao se tranformar...O gol seu time marcarCom o título vc vibrarE seu filho nascerNão seremos mais os mesmosQuando a velhice chegar,As pernas bambearE os amigos desapareceremA vitalidade sumirE as flores sobrarNão seremos os mesmoQuando do trabalho seu sustento virarE o sonho se concretizarA casa montarE as vestimentas comprar...O tijolo subirCom seu novo carro viajar,Para a praia,Campo,Floresta,Montanha,Para o frioPara a neve,Para instantes bonsPorém breves,Não seremos mais os mesmos...Quando toda música ouvir..Sentir,Cantar,tocarE dos velhos cantores vc desistire novos chegarem,mudando tudo que vc já viuque ouiu,que leu,que aprendeu...e saber que aprendemos o diferente a cada dia,e a ignorãncia é virtude para novas atitudes,e os velhos livros,ainda são bons,as palavras não somem,ficam...guardadas no peito de que sentiuna boca de quem falou,na historia... que se tranformou,Não seremos mais os mesmosquando apenas restar o apreço pelo outroe não mais a amizade,ou quando nosso cão se for,nossos pais pararmos de ouvir,e nossos filhos fazermos escutarNão seremos mais os mesmosquando for observar...o por do sol hoje, e daqui a 30 anose ver que além de vc o céu tb se tranformou...a cidade mudou,o predio antigo desabou,e um novo se formou,Não seremos mais os mesmoQuando o novo for velho,E o rastelo...Só levar as pedras e não mais a areia,Ou quando descobrirmos que existe sim sereias...Que cantavam no fundo do mar,Fazendo o barulho das ondas a gente escutar,Não seremos mais os mesmosQuando o gelado derreterE o calor absorver,Ou quando água acabar,ou mesmo quando um novo rio nascer,e poucos deles ainda restar...Não seremos mais os mesmos,Nem após este poema,Nem após o dia que se acaba,Nem após a semana que desaba...E no mês que completamos mais um ano de vida passada...Não seremos mais os mesmosQuando nossos amigos forem outros,Ou os mesmos tiverem outras vidasNão seremos os mesmos...Quando nos perguntarem...Cade vc?E a gente responder...Não estou mais aqui...Não sou mais o mesmo...Eu já parti!