segunda-feira, 2 de março de 2009

I-PODismo




Geração ensurdecida


Sai de casa arrumado. Calado em seu mundo surdo e sonoro. De um mundo de sons que vêm dos fones de ouvido. Pequenos pedaços de cera suja que são empurrados pra dentro pela forte sonoridade. Deixando mais entupida a realidade que passa pelos olhos. O sinal abre para os carros a la Amy Winehouse, e para os pedrestes ao modo Pink Floid. Talvez pelo lirismo que é andar e ver as cores do modo como se quer: se o cansaço bate na volta do trabalho, no ônibus se ouve MPB; se há euforia pelo salário que caiu na conta talvez um rock alternativo; mas se sai para encontrar os amigos o metrô espreme ao som de bate-estaca. Uma criança grita e o que se ouve é a voz de Bruce Dickinson. Mundo alternativo. Mundo plugado no botão da sua emoção. Se alguém pergunta qual ônibus pegar: ”Oi, o que foi?” (no momento de rara tristeza ao se desplugar por alguns segundos do mundo que criamos e entrarmos no mundo dos humanos).“É só virar a esquerda e esperar a linha 174”, responde o rapaz. Sem se dar conta que essa linha já não existe mais. O pai anda com o filho e explica sobre o museu pelo qual o ônibus passa. O filho faz gestos no ar, como se estivesse tocando uma bateria imaginária...para não desapontar o pai diz “Añññ”. Olha-se para lado e há fones, fones e fones. De todas as cores, de todas as raças, de todas as dores. Há música. Há remédio melhor? Há desinteresse humano maior? Ninguém quer saber disso e sim esperar o próximo dowloand para plugar a emoção do próximo dia. Quem talvez esteja de olhos atentos são as indústrias que fabricam aparelho de surdez e os médicos otorrinos; pensando daqui há uns dez nos problemas auditivos. Mas sem grandes preocupações, talvez até lá estejamos todos surdos socialmente.