domingo, 22 de junho de 2008

Gado da noite, arremate da sorte...ou questão de escolha


A puta pára no meio rua e olha atentamente o movimento de veículos. Espera o próximo possível cliente estacionar ao lado de suas pernas torneadas. “Quanto é piranha?” – pergunta o homem de bigode sujo do carro amarelo que estaciona. “Quanto é o que?” – diz mulher de vestido vermelho curto. “O programa, né, porra?” “Para você não tem programa?” – retruca a confiante mulher. “Ué, porque não? O que você está fazendo aqui, então?” – responde o indignado bigodudo com o celular na mão. “Estou esperando um cliente.” “E eu sou o que, biscate?” “Um bosta.” “Olha o respeito, sua vaca.” – diz em tom de brincadeira o homem de meia idade.
“Respeito!! Por quem!? Não te conheço, não quero vender meu ‘produto’ para você porque não fui com a tua cara, babaca.”
“Ta se achando, gostosa...que que você ta pensando da vida, hein?” To pensando em dinheiro, mas não no seu. Porque apesar de estar na rua não sou lixo, e escolho bem para quem quero mostrar minha bunda.”
“Então, você se ferrou, otária, porque ia te pagar 300,00 só por você ser gostosa desse jeito...e porque também não preciso nem um pouco da porra desse dinheiro que você ta querendo. Aliás, olha aqui as três notas azuis que ia te dar – o cara ergue a mão com a grana e mostra para ela. Perdeu. Passe frio aí e arruma o teu cliente, então.” – diz o homem, passando a mão em seu bigode e começado a acelerar o carro. “Aliás, você não quis saber de mim só porque te chamei de piranha, né?! Acho que você queria que eu dissesse Virgem Maria?! (risos) Se manca, porque amiguinho é o que você não vai fazer cobrando 100 conto do cara, né!? Até eu queria ficar amigo de um monte de gente que me pagasse ‘cenzão’ hahaha” – resmunga e sai em derrapada com o carro, o tio de meia idade.
“Filho da puta” – pensa a mulher de diversões noturnas. Um bonito carro prata estaciona perto dos peitos G e pergunta. “Olá, princesa, tudo bem? Ta livre para dar uma volta? Gostei do seu vestido. To louco para descobrir o que tem por baixo dele!” – fala o respeitoso rapaz. Ela olha para o cabelo com gel do garoto, para o banco de couro do carro e suspira. “To livre sim gatinho, para você mostro tudo e a voltinha sai barata (‘cenzinho’)... e gostosa.”

***

Um dia depois descobrem dentro do porta-malas de um estacionamento um carro velho com uma mulher nua, vestido vermelho curto ao lado do corpo, com o olho virado e a boca branca. Sem sinal de sangue. Possivelmente estrangulamento ou intoxicação por drogas. O policial olha e comenta com o compaheiro de trabalho. “Uma gata, hein! Quanta maldade, dá até pena da vida que essas meninas levam” – possivelmente já identificando que se tratava de uma garota de programa. Tá vendo, dá nisso, elas acabam ficando sem escolha e nem sabem com quem andam por aí. Falta de sorte!” O outro policial olha espantado para o corpo da menina e retruca com o amigo. “Falta de sorte nada! Ontem, andei por andei por aí para procurar uma ‘prima’ e uma não quis saber de mim, cara! Acredita? Elas escolhem sim com quem andam – o primeiro policial começa a rir do parceiro. Acredita se eu te falar que a menina era bem parecida com essa piranha gostosa aí...e olha que eu queria dar trezentos conto para ela.”